Saturday 16 October 2010

Medidas não-farmacológicas para o controle do stress

O mundo tornou-se veloz: distâncias diminuiram e os prazos já são para ontem. E medicina sempre foi uma das carreiras que mais demandam da alma e da carne. Eu sou uma pessoa naturalmente agitada, ansiosa, inquieta. É esperado que eu me descabele um pouco mais durante os seis longos anos de graduação neste mundo fervilhante. E nos seis de residência. Mas e depois? E durante minha vida profissional? Serei eu mais uma dependente dos sossega-leão-tarjas-preta para tornar o meu nível de stress aceitável? Me moldar ao aceitável?

Pois é, acho que não.

Existe sim solução para pessoas como eu além do tradicional hipnótico/ansiolítico, (não, não estou falando da associação)! Muitos encontram Deus, Buda, Iemanjá. Outros comem demais, bebem demais, fumam, se drogam. Válvulas de escape. Nada disso funcionaria para mim. A paz não vinha. Até que...

A encontrei. Momentos de absoluta paz. Perfeito silêncio. Meu templo...

...o Centro Cirúrgico.

O cheiro de pele queimada e polvidine estão entre minhas lembranças preferidas, para sempre gravadas em mim. Lá, eu sei quem eu sou e o que devo fazer (e quando não sei, tem sempre alguém para me ensinar ou puxar a minha orelha). Nunca me sinto tão bem quanto lá, onde tenho um propósito, uma definição, minha utilidade - e pode não ser tão grandiosa, como nunca é, mas faço parte de algo grandioso, extraordinário até. Maior do que qualquer médico, qualquer acadêmico: Faço parte de uma equipe. 

O ballet da cirurgia, onde até um baleado de tórax vira poesia. O cáos é organizado, estruturado - tem que ser. Coordenado entre todos os participantes, dançamos com prática treinada (a cada plantão um passo novo) uns com os outros. Temos os pés-de-valsa e os pernas-de-pau, como eu: iniciados mas ainda iniciantes, entre nós - mas somos a equipe cirúrgica e nossa dança é sempre arte treinada. Tango de equipe.

No vestiário ainda, eu começo a virar abóbora. O ar abafado do hospital já entra pela porta. Lá fora, nas esquinas da minha vida, um sentimento angustiante me persegue. Problemas que se ciclam. E reciclam. Não consigo encontrar aquela paz que mora no décimo primeiro andar. Nem com ajuda - não absolutamente.

Mas quando subo as escadas para o centro cirúrgico, meus olhos já brilham com o mais puro êxtase que alguém pode sentir, e as memórias do nosso último encontro tintilam nas pontas dos meus dedos.

Lá, no centro cirúrgico, eu acredito em uma força maior.




Encontrei meu templo: inabalável, impenetrável, no qual os problemas de minha vida não têm espaço, não podem ter espaço. O culto que nele se realiza, descobri, é maior do que técnica e do que arte. É maior, porque é a soma do trabalho, não, do esforço, de rostos anônimos que fazem possível a mágica acontecer. E eles não estão todos lá, comigo. Na verdade, são poucos os que de fato no templo estão, mas do ritual, muitos participam. Afinal, para se fazer um bom verão, público ou particular, é necessário muitas andorinhas. Obrigado, andorinhas, pelas noites (e dias!) de felicidade.

Sunday 3 October 2010

Carta de uma acadêmica

Eu gosto de você, de verdade.
Posso te fazer feliz, mais do que você imagina. Estou te oferecendo mais do que já te ofereceram: eu. E é incondicional, querido. Porque sempre gostei de você, mas sempre tive medo. E recentemente, percebi que o meu medo só me incapacita. Não sei o que está te segurando, se é falta de vontade, de confiança, de tesão. Mas eu sou apaixonada por você - sempre fui - mas nunca acreditei em você.
Cresci.
Hoje, quero que você acredite em mim.
Estou aqui, na sua porta, pedindo para você me amar. Porque eu te amo. Do jeito que você é. Com a bagagem que você tem. Porque foi por você que eu me apaixonei.
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Enfim, sou acadêmica do HGB (assim espero). Nada mais comentarei. Não entendo porque nunca me levou a sério. Sempre te amei, idiota.
Laura