Wednesday 11 July 2012

Listas Perfeitamente Inúteis

Listas são essenciais à minha existência. Tenho lista de listas de afazeres a serem feitos se ou quando outros acontecerem - um verdadeiro algoritmo em listas. Mas sem minhas listas, o pouco que faço seria menos ainda.

Percebi que sou uma fazedora de listas compulsiva ainda nova. Com o tempo, percebi ainda que minhas lindas e perfeitas listas eram uma realidade paralela, um escapismo sem fim para um presente que já não me agradava tanto. Já dizia aquele psiqui-maluco que ótimo é inimigo do bom - e descobri que o ótimo é inimigo do fazer, do terminar. Os perfeccionistas quando frustrados - e a maioria o é - acabam por deixar a coisa incompleta, por largar de mão. E não há lista, por mais detalhada e cheirosa que seja, que resolva problemas, se você não for ticando item a item até completá-la.

Hoje, prefiro preferir um guardanapo amassado com rabiscos a folhas enormes impecáveis e inusadas. Simplicidade e eficiência.

Ah, mas uma linda lista! Quando bate aquela saudade, aquela angústia, passo horas desenhando a minha listinha que só funcionaria no mundo perfeito. Tão linda! E inútil!

Tuesday 10 July 2012

O barulho do silêncio

Já reparou o quão barulhento é o silêncio?

Faça uma experiência científica: No calado da noite, feche bem os olhos e escute o nada. O nada é um zumbido feroz que se transforma a medida que você se concentra nele. E fica mais alto. E mais baixo. E mais alto de novo. E o volume aumenta em um ouvido, depois em outro. Dá uma pressão em um deles e some. Uma imagem de chuvisco de televisão vem na minha cabeça e não consigo explicar o porque. Depois some como se nada tivesse realmente se passado. E se algum barulho, por menor que seja - até mesmo o da peristalse da lagartixa pendurada no teto - te desconcentra, você é capaz de jurar que todo aquele silêncio barulhento não passa de imaginação: afinal, onde já se viu barulho em silêncio?

E tem gente que diz que silêncio diz pouco - ele te diz: Ménière... Ménière... Rsrsrs

Monday 9 July 2012

Capanga Capenga

O pobre capanga Capenga tinha um braço esquerdo só. Pobre capanga capenga! Nunca se acertou na vida.

Afinal, com esta incrível deficiência de apenas um braço esquerdo só, não é de se espantar que nenhuma facção criminosa o quisesse. Sabe como é, capangas, há aos montes, para que empregar um auto-intitulado capenga?

Mas Capenga viu sua sorte mudar. Se aposentou por invalidez pelo INSS sem ter trabalhado nem mesmo um dia sequer em toda sua ociosa vida capanga. Vida capenga.

Hoje, ganha bolsa-auxilio do governo e vive o resto de seus dias capengas elegendo os capangas que o mantém capenga. Pobre Capanga Capenga. Mal sabe ele que, dos capangas, é o mais capenga.

Sunday 8 July 2012

Não me reconheço

Já faz tempo que olho no espelho e vejo um estranho. Um sujeito cansado, que espreme reclamações de toda e qualquer situação mas faz sempre o mínimo. Que é até boa praça, mas acaba sempre deixando algum querido na mão. Me dói. Mas talvez não seja dor intensa:

Uma coceira me sobe nas costas. Esse sujeito se tornou menos da metade do que se sentia por dentro. Ele, até pouco tempo pelo menos, espelhava alguma fagulha do antigo fogo que nele antes residia. Agora não há mais nenhum calor - ficou só a fuligem e fumaça do que algum dia já foi algo. Que poderia se tornar algo. Tenho saudade do que fui. Do que poderia ter sido. De certa maneira, tenho saudade de um eu que talvez não exista mais. Ou talvez esteja dormente; latente, como um vírus dominado e subjugado, ardente pela libertação linfocitária que, se vier, será sem dúvida ebolesca. Se vier.

Enquanto não vem, fico olhando no espelho o estranho que me assusta. Me assusta porque é a fasceis de todos. É a doença do mundo.

Tuesday 3 July 2012

Circunstâncias circunscritas


Acho fantástica a noção de que minha locomoção está implícita e a sua não. Por que raios é esperado que eu me desloque até você e não você até mim? Sim, acordamos cedo e dormimos tarde. Sim, estamos igualmente cansados. Mas se a vontade de me ver é menor que seu cansaço, de fato prefiro que não venha. Eu vou te contar do porque EU não vou: já fui. Já cansei de ir.

Quantas vezes fiz herculeanos esforços pra te ver, estar com você? E em retribuição espera-se simplesmente que de vez em quando faça atos igualmente loucos. Loucos de amor. Não quero nada premeditado. Nem quero desordem o tempo todo. Mas matar a espontaneidade do amar é buscar calor no abraço de cadáver, rígido em rigor mortis. Se a chama que diz arder por mim está morna a ponto de conseguir esperar pela chance oportuna, ou acaso do destino, sinto muito.

Eu crio as minhas circunstâncias.

Venha logo ou não venha nunca mais.