Já faz tempo que olho no espelho e vejo um estranho. Um sujeito cansado, que espreme reclamações de toda e qualquer situação mas faz sempre o mínimo. Que é até boa praça, mas acaba sempre deixando algum querido na mão. Me dói. Mas talvez não seja dor intensa:
Uma coceira me sobe nas costas. Esse sujeito se tornou menos da metade do que se sentia por dentro. Ele, até pouco tempo pelo menos, espelhava alguma fagulha do antigo fogo que nele antes residia. Agora não há mais nenhum calor - ficou só a fuligem e fumaça do que algum dia já foi algo. Que poderia se tornar algo. Tenho saudade do que fui. Do que poderia ter sido. De certa maneira, tenho saudade de um eu que talvez não exista mais. Ou talvez esteja dormente; latente, como um vírus dominado e subjugado, ardente pela libertação linfocitária que, se vier, será sem dúvida ebolesca. Se vier.
Enquanto não vem, fico olhando no espelho o estranho que me assusta. Me assusta porque é a fasceis de todos. É a doença do mundo.
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